"Some people, were born to sit by a river. Some get struck by lightning. Some have an ear for music. Some are artists. Some swim. Some know buttons. Some know Shakespeare. Some are mothers. And some people, dance."
Para quem, como eu, já viu o filme "The Curious Case of Benjamin Button" mais vezes do que o socialmente compreensível e aceitável, esta frase não será estranha. A ideia da dita é, como é bastante fácil de perceber, que todos nascemos talhados para alguma coisa, com jeito para isto ou para aquilo, que com mais ou menos dons a registar, todos somos realmente bons em qualquer coisa. Por acaso, eu ainda não descobri em quê, mas isso são outras histórias.
A questão é que, como em quase tudo, há o reverso da medalha. Todos, acho, somos também realmente maus em qualquer coisa. ou em duas ou três. Ora eu, a juntar à falta de delicadeza com a espécie humana, descobri outro podre: sou uma péssima condutora.
Decidi que, aos 23 aninhos, estava mais que na altura de deixar de andar a pé e pedir boleia aos meus já cansados amigos e pus-me a tirar a cartinha, aproveitando (mais uma vez) a abundância de tempo dos meus dias.
No código, à excepção do terror do decorar das velocidades de tudo o que mexe, nem tive grandes dificuldades. Aos poucos e com um bocadinho de estudo aqui e acolá, lá me ajeitei e passei no exame. Com três erradas, dois enfartes do miocárdio e um cerebral, mas passei, vá.
Os meus amigos, no geral, todos me garantiram que o mais difícil já tinha passado, que o código era um berbicacho daqueles e que a condução é que era espectacular. Que tanta aula (são 30) para uma coisa tão fácil até era um exagero! Hum, hum.
As primeiras aulas foram o terror. Ele é mudanças, luzes, pedais, sinais, peões, passadeiras, estacionar, inverter a marcha (pânico) e o diabo a sete. Calma aí, que eu não tenho cérebro para tanto!
Entretanto o drama abrandou. Já sou capaz de mudar de mudanças sem grandes festivais, mas continuo a ser péssima, PÉSSIMA, em manobras. Inversão de marcha é mentira, a estacionar sou uma vergonha e contornar passeios, enfim...
Faltam 10 aulas para as 30 e eu sinto que a minha instutora, que é um amor e ouve a Antena 3 (valha-me isso), está prestes a perder a paciência que lhe resta e a enfiar-me a cabeça no volante 100 vezes seguidas. Só para ver se eu perco os sentidos e me torno mais concentrada e habilidosa. É que, a sério, quietinha, ou mesmo inconsciente, é que eu estou bem.
(Agradeço, de coração, testemunhos que me façam sentir bem, esperançada e um bocadinho menos idiota. Todos os bons condutores, os que o foram desde sempre, calem-se, se fizerem o favor.)