quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Heil, Ferreira Leite



Manuela Ferreira Leite, já se sabe, não é famosa pela sua eloquência. A senhora, que politiquices à parte parece uma jóia de pessoa, embrulha-se um bocado com as palavras e diz o que não quer e o que não deve.

Ora diz que era bom era ficarmos seis meses sem democracia, que isto em ditadura é que a malta fica rija, ora sugere que os doentes renais com mais de 70 anos passem a pagar a hemodiálise, esta a última das supostas bacoradas, na passada Terça-feira, no programa Contracorrente, da Sic Notícias.

O meu avô faz hemodiálise há mais de 10 anos, tem mais de 70 e ainda está ali para as curvas. Então, pensei eu, depois de ler a notícia num orgão "cujo nome não deve ser pronunciado", tu queres ver que a Manela quer-me matar o homem? É que, bem vistas as coisas, 500 eurinhos (ou mais) por semana, 4 semanas por mês, 12 meses por ano, é puxadote. Nããã! Ninguém pode ser tão parvo para comprometer (ainda mais), de forma gratuita e em directo, a sua imagem desta forma. Ou para querer matar milhares de idosos em, sei lá, três dias.

Posto isto, e farta de ver os meus amiguinhos do Facebook postarem a notícia, incrédulos e sem se terem certamente dado ao trabalho de ver o vídeo da tão pouco prodigiosa afirmação, resolvi ir procurar o dito.

E claro está que não temos um Hitler de saias e em português a querer criar trincheiras de velhos com rins preguiçosos. Manuela Ferreira Leite, de facto, proferiu aquelas malditas palavras, que lhe valeram mais uma vez o título de ditadora, mas o que ninguém disse é que minutos depois se justificou, perante a estupefacção dos outros convidados e a da própria, dizendo que na realidade se tratava não de excluir, mas sim de racionar! Ou seja, quem pode paga, quem não pode passa a outro e não ao mesmo. Resumindo: uns têm que pagar, os que possam, para que seja possível que a saúde seja gratuita para outros. Tipo o lema do tirar aos ricos para dar aos pobres. Isto é simples, não é nada de novo e só não entende quem não quer.

Claro que eu acho muito complicado, principalmente neste momento, que existam muitos senhores e senhoras capazes de comportar os seus tratamentos de hemodiálise para aliviar o Estado. Acho. Acho igualmente que ninguém vai de porta em porta perguntar quem quer pagar, e que quem pode pagar não se vai chegar à frente, qual altruísta salvador da nação, e dizer que paga, que é bom.

Mas o que interessa aqui é que a senhora não quis cuspir na cabeça de ninguém. Pelo menos desta vez. Ela disse aquela barbaridade, mas justificou-se logo a seguir. A comunicação social, uns orgãos mais que outros, gosta de distorcer um bocadinho as coisas a favor do escândalo. Afinal de contas, e eu estudei isso e sei-o bem, o escândalo, o inesperado, o corrosivo, é que vende! E então se vende, está tudo bem. Mesmo que a dignidade e a boa-fé de terceiros sejam postas em causa.

Jornalismo não é isto. Nem tem que ser.

Sim, às vezes, 6 meses sem democracia caía meeeeesmo bem.


Aos 43 minutos.

2 comentários:

  1. Por isso é que raramente leio jornais, e quando leio vou logo ver o que as pessoas disseram efectivamente. Há coisas que a preguiça mental ainda desculpa, mas outras são mesmo puro interesse propagandista. Cada vez gosto mais dos sistemas de comunicação anglo-saxónicos, em que os jornais assumem as suas posições e as suas cores em vez de andarem com a falsa imparcialidade que se pratica cá.

    Já agora, vai ser preciso que haja problemas sérios de financiamento do SNS para se começar a discutir estas coisas e não atirar com meia dúzia de palhaçadas para o ar. O que a senhora diz é verdade, se pagarmos temos direito, se não houver como pagar não há direito nem constituição que nos valha.

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  2. Os media, em parte, são culpados pelo estado do país.
    Digo "em parte", logicamente, porque não são eles que lançam as leis e por aí fora.
    Mas esta senhora, ainda não percebi bem se tem ou não razão (logo hei-de ver o vídeo) porque são tantas asneiras (ou não) que fico sem saber se são propositadas ou não. Ela não tem queda para a política... é muito natural, tal como disseste, diz tudo o que lhe vai na alma.

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